
Outubro Rosa: Como o trabalho me ajudou a lidar com o câncer de mama
Entrevista com Laura Castelhano
O câncer de mama é uma doença séria. Sabe-se que entre todos os tipos de câncer, é o que mais mata mulheres. Segundo o INCA (Instituto Nacional de câncer), somente este ano, deverão surgir mais de 66.000 mil novos casos no Brasil.
O Farol de Carreira entrevistou nossa conselheira, a professora Laura Castelhano, que recebeu o diagnóstico de câncer de mama em out/2020, fez todo o tratamento e hoje está curada. Ela fala sobre a importância do trabalho durante o tratamento e como líderes podem ajudar às pessoas que recebem esse diagnóstico.
Laura, como foi lidar com o diagnóstico de câncer de mama?
Eu descobri o câncer de mama num exame de rotina, não tinha nenhum sintoma. Fazia mamografia todos os anos. E quando eu recebi o diagnóstico, foi um verdadeiro susto. Pois nunca tinha tido nenhum caso na família. Lidar com o diagnóstico do câncer de mama é muito difícil. Eu e minha família fomos invadidos por uma série de temores e dúvidas, que somente os médicos puderam sanar.
Como o trabalho te ajudou nesse processo?
O trabalho foi essencial por alguns motivos, que vou enumerar aqui.
1. ter o foco em algo saudável
Tem algo que toma conta da sua mente quando você recebe um diagnóstico como esse. Parece que algo “cola” em você. Tudo que você faz, pensa te leva ao câncer. Durante quase todo o tempo eu me perguntava: “como vou sair dessa?” O trabalho me ajudou a manter-me focada em algo que não era a doença. Ao trabalhar eu mantinha meus pensamentos voltados para atividades que me garantiam uma sensação de estabilidade. Como se eu reconhecesse as referências e o espaço de “segurança”. O trabalho me ajudou a me aproximar da minha saúde. É importante salientar que só consegui manter algumas atividades por estar trabalhando de casa, no período da pandemia.
2. no meio de um turbilhão, algo que era certo e conhecido
Quando você recebe um diagnóstico de câncer a única certeza que você tem é que não há certezas. Por isso me manter ativa e trabalhando também me ajudou muito a me fixar em algo que para mim, era conhecido e compensador. Trilhar um caminho incerto, que você terá pouquíssimo controle é angustiante. E uma das formas que eu encontrei para lidar com a angústia do “não saber” foi o trabalho.
3. falar e conscientizar
Percebi que as pessoas não sabem como reagir à notícia e, muitas vezes, não sabem como lidar com alguém próximo que recebeu o diagnóstico. Eu ajudei as pessoas a lidarem comigo e com o meu processo de um jeito simples. Eu falava e explicava o que estava acontecendo. Em um dado momento, por conta da quimioterapia, tornou-se visível. Quando pensamos em ‘câncer’ somos invadidos por imagens e sensações que não são boas. Culturalmente o câncer é sempre representado por algo implacável que leva a finitude. Há uma série de estigmas. Por isso, as pessoas ao redor, quando descobrem que você tem câncer ficarão sem saber como lidar. Falar me ajudou, não só na elaboração, mas na conscientização das pessoas a minha volta.
4. suporte e apoio – o amparo fundamental no momento de desamparo
O câncer me fez embarcar em uma viagem sem saber ao certo onde eu iria chegar. Sabia que eu tinha que “embarcar”, que teria muita turbulência, e que eu só descobriria o meu destino durante o voo. Por isso as pessoas que me acompanharam “nesta viagem” tiveram um valor fundamental.
Como os líderes e colegas podem ajudar as pessoas que receberam esse diagnóstico?
A informação sobre o processo também pode ajudar. Lideres, RHs, e colegas de trabalho podem se informar melhor para aprender a lidar com as várias situações e perceber os enfrentamentos de uma mulher diante do câncer.
Existem vários tipos de câncer de mama e para cada tipo, um tratamento diferente. Apesar de nem todos terem como protocolo a quimioterapia e a radioterapia é o mais comum que aconteça. Pessoas que passam pelo tratamento se sentirão mais cansadas, podem desenvolver outros sintomas por conta das medicações.
Tornar-se uma paciente oncológica fará com que a mulher tenha que fazer muitas visitas a médicos e exames. A mulher ficará muito mais sensível. Ocorrerão mudanças visíveis no corpo, na pele e em alguns casos, a queda do cabelo. A emoção que prevalecerá, será o medo.
Receber ajuda e apoio para lidar com a gangorra emocional é fundamental, e as pessoas que convivem e compartilham da interação no trabalho terão um grande papel em todos os estágios, desde o diagnóstico, durante o tratamento e depois de finalizado o processo.
A opção por me manter ativa e trabalhando me ajudou muito a passar pelo período de uma maneira mais leve. Sei que a minha realidade pode não ser a de outras mulheres que podem optar, por exemplo, por parar de trabalhar. Mas, o trabalho, para mim, foi fundamental e agradeço todos os dias por ter conseguido me manter, mesmo que com a minha jornada reduzida, ativa e trabalhando.
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